quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Militância para seguir em frente

Post Sugerido por nossa amiga Emanuela Mariano

Movimento SuperAção faz 10 anos em 2013 e transforma a luta da PCD em exercício de cidadania. trajetória da iniciativa se confunde com a de seu idealizador, o rapper Billy Saga, e mostra que militar pode conferir sentido a uma existência marcada pelas limitações de uma deficiência física



Conscientizar foi a bandeira escolhida pelo Movimento SuperAção, que completa 10 anos em 2013, como voz das pessoas com deficiência (PCD) na luta por importantes conquistas, como o direito à autonomia, educação, trabalho, questões que requerem modificações estruturais no âmbito público e privado para que sejam resolvidas. Com essa proposta, foram nove edições de passeatas em São Paulo (a última reuniu, rapidamente, mais de 300 pessoas, em dezembro de 2012), além de vários eventos socioculturais. O movimento aportou em cidades como Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, Brasília e Fortaleza. E mais três municípios argentinos. Tornou-se referência entre os militantes da causa e foi criada a ONG SuperAção.
Para Billy Saga, paulistano que fundou a iniciativa (hoje na presidência do movimento), a militância é a “continuidade do processo de superação”, após a aceitação da condição da deficiência. Embora o engajamento seja, também, a razão encontrada para prosseguir na vida por muitos indivíduos com deficiência adquirida. De uma forma ou de outra, eles ganham com a atitude: motivam-se e exercem sua cidadania, algo que se reverte em benefício para a comunidade e para eles mesmos. Uma conquista da qual Billy Saga também se fez valer.
Mesmo com tantas pessoas motivadas pela militância, Saga sente a necessidade de maior comprometimento individual com a causa da deficiência. “O que vemos são organizações engajadas na causa com os direitos das pessoas com deficiência, como a Mais Diferenças que apoia o Movimento SuperAção desde o princípio, fortalecendo a corrente nessa luta”, observa o rapper, lembrando que o quórum dos eventos do movimento, que conta com o engajamento pessoal, embora grande, ainda é pouco representativo diante do número de pessoas com deficiência no País.
O papel de quem se compromete com o tema, ainda que faça um trabalho “de formiga”, é transformador: “Quem a faz [a militância], acredita que enquanto olharmos só para nossos umbigos, as mudanças não ocorrerão. Eu não admito que apenas algumas pessoas se destaquem em relação à superação em suas vidas. De nada adianta, o segmento das pessoas com deficiência me ver como um cara que se superou, se a maioria da sociedade, ao olhar uma pessoa com deficiência, continua com um olhar calcado na piedade, ou na repulsa, ou no assistencialismo”, entende Saga.
Para o idealizador do movimento SuperAção, justo será o dia em que não houver necessidade de passeata, de militância. Que as pessoas com defciência tiverem as oportunidades equiparadas em todas as áreas. «Eu não quero ser o Billy que se superou, que é exceção da regra. Eu busco o Billy que se mistura na multidão e não se destaca, nem pelas virtudes, nem pelos gap’s, um cidadão comum, com direitos e deveres assegurados.” Justíssimo.

O movimento aportou em cidades como Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, Brasília e Fortaleza. E mais três municípios argentinos

Nona edição de passeata, em São Paulo: 300 pessoas reunidas na Paulista, rapidamente
A VIDA PELA LUTA“Sofri um acidente de moto em 1998, causado por uma viatura da PM que ultrapassou o farol vermelho sem giroflex nem sinal sonoro, conduzida por um soldado com a carta de habilitação vencida que me atropelou”, inicia Billy Saga, a sua história. “No acidente, fraturei três vértebras, tive duas fraturas expostas na perna direita e me tornei paraplégico. Desde então passei a vivenciar o quão excluída e segregada era a pessoa com deficiência no Brasil e resolvi fazer algo para tentar mudar esse panorama deprimente que mina a cidadania das pessoas com deficiência.”
Em sua nova configuração, teve de seguir em frente. «Depois de sofrer o acidente, após apagar o incêndio, ou seja, depois de ter alta do hospital, voltar pra casa, receber todas as visitas e tomar todos os chás com bolacha com parentes e amigos, entre palavras de incentivo e olhares de pena, a vida tem de se restabelecer, seja como for. A pessoa com deficiência tem de arrumar forças como uma fênix para renascer das cinzas e buscar o máximo de reabilitação possível. Deve viver um breve luto, enterrar o antigo ‘ser’ e acreditar com toda fé no novo ser que habita em si», entende o militante.
Com essa postura, Saga tornou-se um cadeirante autônomo. “Nunca fui muito esportista. Faço o básico. ‘Puxo um ferro’ para fortalecer os membros superiores e manter a minha independência, como me transferir da cadeira pra cama, pro carro, desmontar a minha cadeira sozinho e guardar no carro. Moro sozinho e tenho que estar forte para conseguir executar as tarefas diárias.” A relação com a música sempre foi mais forte do que seu contato com o esporte. (Ainda bem!)

“Eu não admito que apenas algumas pessoas se destaquem em relação à superação em suas vidas” Billy Saga

Manifestações além das fronteiras paulistas: sucesso entre cariocas
A MÚSICA“Componho desde os 14 anos. Desde essa época, comecei a ouvir rap e me identificar com esse estilo musical. Talvez por esse forte protesto que o rap traz em sua essência. Não acredito no acaso e hoje, pondo em perspectiva o rap faz muito sentido em toda a minha luta pela causa das pessoas com deficiência”, conclui Saga.
“Nesse processo todo, o rap me deu forças para encarar, para projetar um futuro mais esperançoso e para ratificar um sentido para minhas convicções. Com o passar do tempo, ingressei em uma companhia de teatro, chamada Oficina dos Menestréis, apresentando musicais desde então. Estou lançando meu primeiro cd solo, gravado com banda.”
Resultado de quase duas décadas de dedicação ao rap, o disco solo de Saga Me jogue aos lobos, pode ser considerado um dos mais autênticos e combativos trabalhos artísticos a abordar, nas entrelinhas de músicas com temas variados, como o direito da pessoa com deficiência.
Billy Saga: “O rap faz muito sentido em toda a minha luta pela causa das pessoas com deficiência”
Em sua alquimia musical, o artista funde o hip-hop a elementos do Rock, Reggae, Dub e Samba - transita em assuntos tão diversos que vão desde experiências mundo afora a suas noções de política, relacionamentos, tecnologia e religião, deixando sempre evidente seu espírito guerreiro, embora seja um pacifista.
Assim como em sua música, Billy Saga deixa sua mensagem: “Torna te aquilo que és”, que significa entender a condição de PCD, conscientizar-se acerca de tudo o que a envolve. “É inadmissível que as pessoas com deficiência fiquem passivas a uma sociedade que ainda faz vista grossa para fatores tão importantes para o processo de inclusão, tais como escola inclusiva, leis de cotas, maior investimento em tecnologias assistivas, readequação arquitetônica. As pessoas com deficiência devem entender que elas tem que se unir e bater forte nessas teclas até conquistar seus direitos. Não é porque eu tenho um carro, um emprego e uma cadeira de rodas decente, que eu devo achar que está tudo bem. Cerca de 24% da população brasileira tem alguma deficiência e a sociedade nem sequer vê essas pessoas no convívio social.”

Para o idealizador do movimento SuperAção, justo será o dia em que não houver necessidade de passeata, de militância. Que as pessoas com deficiência tiverem asoportunidades equiparadas

Para Billy Saga, está mais do que na hora de mostrar a cara. “O Movimento SuperAção está aí há 10 anos empunhando essa bandeira e ainda é ínfima a adesão das pessoas com deficiência nessa militância. Eu decidi não ficar esperando sentado, e vocês? Caso também não, vinculem-se a nós www.movimentosuperacao. org.br. É gratuito! Não queremos seu dinheiro, queremos a sua atitude! Qual é a ONG que faz um evento que para a Av. Paulista e ainda fornece gratuitamente uma camiseta para cada participante, visando legitimar a luta? Somos nós! É notório que o SuperAção veio para mudar a história e nós contamos com vocês.”

Reportagem:
revistasentidos.uol.com.br
Por Jussara Goyano/ Imagens: Ricardo Alcará e Rapha Bathe

0 comentários:

Postar um comentário

Cresça com a gente ! Compartilhe Informação !!!

Share

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More