terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Adriana Buzelin fala sobre mergulho, moda, e muito mais

Pessoal demorei, mas aqui estou! De férias, finalmente!!! Hoje trago para vocês não apenas uma entrevista, mas uma história de vida! Adriana nos contou sobre sua vida antes e após a deficiência. Nos falou sobre trabalho, moda, mergulho, arte e muito mais... Confira!



Nome: Adriana Buzelin
Cidade/Estado em que mora: Belo Horizonte - MG
Estado civil/filhos: Atualmente estou solteira.
Conte um pouco sobre como era sua vida antes de ser uma pessoa com deficiência: Eu estudava meu primeiro curso superior na Newton Paiva, fazia Relações Públicas. Também trabalhava como modelo publicitário e era produtora de eventos. Produzia artistas plásticos e bandas de rock.
Sempre fiz muito esporte. Dancei ballet clássico por 12 anos, lutei karatê por 5 anos e sempre fiz natação. Sem contar as experiências em outros esportes como jazz, ballet moderno, tênis, judô. Enfim, sempre fui amante de esportes.
Lembro-me que antes de me acidentar eu já era muito aventureira, queria saltar de paraquedas, asa delta! Sempre gostei de altura. Mergulhar não fazia muito parte de meus planos, pois raramente tinha contato direto com o mar.


O que aconteceu que fez com que se tornasse uma pessoa com deficiência: Acidentei-me em 91 e tive uma compressão medular nível C5/C6 decorrente de um acidente automobilístico aqui mesmo na cidade de Belo Horizonte. Na época era muito raro usar ter um bom resgate e fui resgatada da melhor maneira possível por um avaliador do Detran chamado Cláudio por conta disso devo a ele não ter tido sequelas maiores.



No início quais eram suas maiores dificuldades e/ou o que mais te deixava triste? Qualquer ruptura em nossas vidas é uma mudança radical, ainda mais quando se trata de uma lesão medular da qual te coloca em uma cadeira de rodas. As perdas sempre são muito difíceis e, para mim, não foi diferente. Fiquei 2 anos praticamente sem mexer quase nada do pescoço pra baixo e com uma escara na cabeça que dava para tocar meu crânio.  Minha saúde era delicada e exigia muita atenção por isso parei de estudar e trabalhar. Também contava com a falta de acessibilidade da escola e a dificuldade de informação, que hoje percebo ter, quanto a lesão medular.

Nestes dois anos a aceitação da minha nova condição de vida foi muito dolorosa, pois me vi careca por conta de cicatrizes na cabeça e com uma flacidez corporal que nada tinha a ver com minha condição de atleta e modelo publicitário. Aos poucos, fui entendendo a gravidade da situação e tentando me adequar a este novo universo.

Confesso que foi muito difícil e muito doloroso. Tive que recomeçar. Aprender a respirar melhor, a comer, a compreender meu corpo e suas limitações. Tive que me dedicar a fisioterapia de todos os estilos, desde a convencional a Hidro terapia, equoterapia (fisioterapia em cavalos) das quais sem tanto esforçar não teria as melhoras que hoje tenho e tive também que mudar valores, conceitos e a maneira de enxergar a vida.

Voltar a trabalhar, estudar, dirigir e sair para baladas foram conquistas que fizeram toda diferença na reconstrução deste novo universo.

Você trabalha? Estuda? Pratica esporte? Fale para nós um pouco sobre sua rotina atual. Atualmente eu trabalho como designer e sou colunista de algumas revistas como a Revista Reação (www.revistareacao.com.br) e a Revista Virtual 2/1 (www.doisporum.com.br) onde falo de esportes, superação, inclusão e comportamento.
Após alguns anos de acidente voltei a estudar e terminei o curso de Relações Públicas, depois fiz Produção Editorial parando no 6º período para migar para o Design Gráfico. Também fiz vários cursos relacionados as artes e sua história, me especializei em cerâmica onde conquistei o Prêmio de Honra ao Mérito na Câmara dos Vereadores com as obras Favelas onde retrato os aglomerados do Brasil. Na época fui indicada por Silvinho Resende e fiz inúmeras exposições que vão desde a Prefeitura de Belo Horizonte até São Paulo. Tenho obras no Palácio das Artes em BH, em galerias de Sidney e Austrália. Estas obras questionam a inclusão, a acessibilidade e o belo onde não é considerado convencional.

 


Também dedico uma parte do meu tempo customizando peças de moda, como havaianas, bolsas, bijouterias que só me ajudam na melhor movimentação dos dedos das mãos entre os ganhos financeiros. Estas peças vocês podem conhecer em meu perfil destinado a isto.


Continuo fazendo fisioterapia e, em breve, estarei fazendo natação porém  nada para concorrer ou participar de campeonatos. Gostaria muito de conseguir iniciar no tênis adaptado mas, para isto, estou fazendo alguns exames porque como, tetraplégica, o tênis exige muito dos meus braços  e não tenho a força total deles. 
Quais vitórias já obteve que gostaria de compartilhar conosco?  O mais lindo que aconteceu em minha vida após o acidente foi me tornar mergulhadora.
Como falei anteriormente, nunca sonhei em mergulhar! Sonhava em saltar de paraquedas, mas mergulhar não. Até mesmo por total falta de informação, eu não sabia que poderia me tornar uma mergulhadora.
  
O mergulho surgiu em minha vida da forma mais linda possível. Meu irmão, Márcio, estava de férias em Fernando de Noronha. Mergulhando de forma recreativa, percebeu que a sensação era tão ímpar e singular que poderia me tirar desde universo terrestre onde enfrento tantos obstáculos físicos. Me ligou, me relatou como era fascinante estar submerso e me fez a proposta de ir tentar fazer o mesmo.

Daí, fui à busca de escolas e profissionais que fossem habilitados em mergulho adaptado. Pesquisei na internet e descobri a pessoa pioneira em mergulho adaptado no Brasil (HSA): Lucia Sodré. Conversando, ela me explicou que a HSA (Handicap Scuba Association), fundada em 1981, dedicou-se a melhorar o físico e o bem-estar social das pessoas com deficiência através do esporte de mergulho, tendo mergulhadores instrutores em alguns pontos do Brasil e um deles em São Paulo. William Palma Spinetti, instrutor credenciado da HSA, dá este curso especializado para pessoas com deficiência. Qualquer pessoa com limitação física e que compreenda as regras de segurança que envolve mergulhar podem, se com saúde, ingressar no mergulho adaptado.

Digo que foi a melhor experiência que tive em toda minha vida.  A partir do momento que adentramos no universo do mergulho, nossa vida se transforma; abre-se um novo olhar e aí não conseguimos viver mais sem. Queremos, cada vez mais, ousar, experimentar, descobrir…

Fomos eu, Kleber, meu noivo e companheiros de mergulho, para Ilha Bela – litoral de SP, fomos fazer o "checkout" afinal já havia passado nas aulas teóricas e de piscina, faltava apenas aplicar tudo que havia aprendido no mar. Não havia medo, não havia receio, havia apenas uma imensa felicidade de estar ali. A sensação da água te dando liberdade e leveza era o que sentia em meu corpo enquanto em minha mente só me trazia uma sensação de um imenso prazer de capacidade e fascinação por poder desvendar este novo universo que nunca sairei dele. Mesmo com pouca visibilidade, consegui ver corais, peixes, pepinos marinhos, estrela marinha, uma estátua de Netuno, uma carroceria de caminhão… Depois disso, percebi que minha vida não seria mais a mesma!
 (Texto escrito em out/2012)


E segui em frente, já com minha carteirinha da HSA poderia mergulhar pelo mundo todo. E não deu outra! Comprei um pacote de viagem na Scafo/SP e fomos para Bonaire - AN. Para quem não sabe a ilha de Bonaire é considerada o paraíso dos mergulhadores por ter muitos pontos de mergulhos. É maravilhosa a ilha e a maioria das fotos de mergulho publicadas neste site foram tiradas lá com câmeras especiais.

Nitrox, mergulho noturno já são especialidades estudei e que me aprimorei nesta viagem. Mas ainda tem muito mais a aprender como controlar bem a flutuabilidade, manusear e manter seu equipamento, naufrágios, mergulho profundo, reconhecimento de espécies, fotos subaquáticas, dentro muitos outras.
  
Lá o desafio foi ainda maior, pois além de muitas horas de viagem até Bonaire vivenciamos vários tipos de mergulho e cada um se mostrava mais encantador e desafiador que o outro. O mergulho noturno com a lanterna em mãos pude ver animais de vida noturna que não aparecem durante o dia, além da bioluminescências que podemos ver quando apagamos as lanternas. É um mundo mágico e viciante, pois em cada mergulho desenvolvemos mais nossas habilidades e conquistamos novas experiências, além de conhecer pessoas, que viram companheiros de emoção, de todo mundo.
(Texto escrito em jun/13)




Daqui para frente virão muitas outras viagens e já tenho algumas programadas.

Outro universo que me dedico muito é o da moda inclusiva.
Após o acidente e pelo fato de atualmente estar em uma cadeira de rodas nunca mais cogitei a possibilidade de tentar a inserção no mundo da moda, mas a vida nos reserva muitas surpresas. Ainda bem!
  
Tive uma oportunidade de tirar umas fotos por pura vaidade pessoal que rendeu alguns frutos. Resolvi me dar oportunidade de me ver através de uma máquina fotográfica e para isto você tem que estar muito bem com seu corpo, tanto que achei as fotos muito bonitas. Divulgada estas fotos, pessoas da área de moda me convidaram para fazer um book profissional. Eita, surgiu um desafio e como não gosto nada de desafios, é claro, que fui tentar!

Após isto, fui convidada a dar um depoimento para a revista Viver Brasil, de outubro/2012, onde apareceu, inclusive, umas das fotos do meu book feitos pela agência de modelos Woll de BH.

Sou considerada a primeira modelo cadeirante agenciada de Minas Gerais, porém percebo claramente como este mercado está engatinhando. A inclusão no universo da moda para quem porta uma deficiência ou mesmo possui algo diferente do padrão ainda é dificil.  Tenho tentado divulgar e me inserir no mercado da moda, mas ainda tem muitas restrições. 

Existem poucos profissionais que se interessam por modelos diferenciados ou pela moda inclusiva. Em Belo Horizonte, cidade onde moro atualmente, já existem algumas inserções na mídia que você pode conferir no meu site:  www.adrianabuzelin.com

Porém, não é novidade alguma dizer que fora do país existe um mercado interessante e reconhecido de modelos com deficiência. Até mesmo, em São Paulo, esta área começa a ser vista com bons olhos, mas, infelizmente o mercado ainda está muito fechado e são poucos que percebem a possibilidade de mudar o estereótipo do modelo publicitário, enfim a reação do público tem sido boa e muitos conseguem admirar um novo conceito de beleza.

Tem um texto de Joaquim Nabuco que expressa muito o tento dizer:

"A borboleta nos acha pesados, o pavão malvestido, o rouxinol roucos, a águia rastejantes.” Estas palavras traduzem claramente algo que nem todos veem: tudo na vida é relativo, tem diversas formas, dependendo de como enxergamos. Inclusive a beleza.


Também tem muitos projetos vindo por aí que, acredito, irão contribuir muito para mudança dessa mentalidade em relação a beleza e pessoas com deficiência.
Quais seus planos para o futuro? Vários! Tenho vários projetos que estão prontinhos para sair da gaveta em 2014! A nível pessoal desejo muito conquistar mais independência física e financeira para melhorar minha qualidade de vida. Em 2014 virão muitos projetos de moda e muitas aventuras com mergulho. E quem sabe mais coisas que ainda nem sei...rs!
Considerando que alguns leitores do Blog são pessoas com deficiência e que você já passou por muitas lutas, mas também por grandes vitórias gostaríamos que deixasse uma mensagem a esses leitores. Acredite que tudo passa. Confie em seu potencial. Encare sua nova realidade e faça de tudo para ser feliz mesmo com suas limitações. A vida é linda e grandiosa, vale muito a pena viver!
Se quiser divulgar algum trabalho, atividade, contatos, fique a vontade, esse é o momento.
Meu site: Adriana Buzelin
Artes e artesanatos: Byadriana Buzelin
Facebook: Facebook

Adriana, em nome do Diretoria Eficiente, eu te agradeço por dividir a sua história com nossos leitores. Desejamos um sucesso cada dia maior e conte conosco para o que precisar!

Gostou? Compartilhe! Comente!
  Nós do Diretoria e a Adriana gostaríamos de ler seus Comentários!!

2 comentários:

Bom!!!
Não tenho muito a dizer,só tenho a agradecer Adriana por nos encorajar com sua história.
Entendi que: Se esperarmos até estarmos prontos,esperaremos pelo resto de nossas vidas.

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